domingo, 13 de novembro de 2011


PRECE

Terra.
Aterrar.
Enterrar.
Aturar
o mau tempo
e rogar pelo bom.
Plantar,
colher,
plantar,
colher...
E rogar para haver o que colher.
Na terra
sonhar...
Primaverão.
primaveras virão.

Amélia de Morais

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INQUIETAÇÃO

Remove
com amor desejo
a terra úmida
dos meus pés.
Não quero ficar plantada
onde não há o brilho do sol.
Leva-me
para o universo
belo e rico
das tuas palavras:
A poesia.
Quero sentar-me tranquila
onde há a ternura
das noites de lua.

Amélia de Morais

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O SAPO

O enorme sapo
que nunca pula
é um bicho esquisito
é um bicho bonito (?)
Traça seus planos
em silêncio
e espera assim
ganhar o céu.
Assim
sem jamais pular!

Amélia de Morais

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Recife

Minha cidade emprestada,
adotada,
minha cidade
recortada,
molhada,
bela.
Antiga e moderna,
misteriosa e aberta,
exposta ao mar,
aos rios.
Minha cidade dos outros.
Cidade onde construí
meus castelos de areia,
alguns derrubados pelo vento
que soprou forte, muito forte.
Sobraram três torres,
muito mais fortes que o vento,
três lindas torres,
todas filhas legítimas
de minha cidade emprestada.

Amélia de Morais

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Pedra Azul

É engraçado
que me lembre
tão pouco
e que seja tão feliz
com minhas lembranças.
Lembro-me da chuva forte,
a água descendo na ladeira
e nós,
crianças,
brincando,
criando barreiras
pras águas que desciam a ladeira.
Lembro-me dos passeios
de bicicleta,
na bicicleta emprestada.
Lembro-me da escola,
alguns colegas, alguns professores.
Lembro-me da casa,
da frente até o quintal,
o segundo quintal,
antes que a prefeitura o derrubasse
para construir uma rua,
do pé de siriguela,
do pé de abacate,
do pé de laranja,
do pé de manga,
do pé de laranja lima...
Lembro-me da minha avó
a costurar,
a fazer bolos de festas,
a sorrir,
a cantar,
a cuidar dos meus cabelos, longos, loiros e bastante cacheados.
Lembro-me das pedras
que cercam a cidade
e lembro-me
do sonho de fugir da cidade
com o circo.
Pedra Azul.
Sonho e lembranças
de infância feliz.

Amélia de Morais

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