ROSA DE MINAS

As flores cresceram assustadoramente,
estão quase falando.
Estão Lindas!
Continuam florescendo,
floreando... floreseanso...
encantadas, encantando.
Derramaram-se em pétalas
de todas as cores.
Até mesmo as que não existem
surgem no silêncio de cada uma.

Amélia de Morais

BRINCADEIRA DIVINA

Navegava
nos quatro cantos do juízo
Em cada um
plantava a semente imperfeita
da loucura
De cada um
Colhia a poesia refeita
mais pura
Brincava de ser Deus

Amélia de Morais

NOVO RUMO

As lágrimas
escreveram história
na minha face
e a palavra muda
mudou o rumo da minha vida

Amélia de Morais

DONA DO MEU NARIZ

Estou saindo pra vida
pedindo licença à lua
reinventando a alegria

Estou ficando atrevida
saio dançando na rua
seja de noite ou de dia

Sou minha força motriz
e dona do meu nariz


Amélia de Morais

AMARGO PAPEL

Reescrevi aquela canção
de alegres notas musicais

É agora um solo de violão
chorosa despedida no cais

Reescrevi os doces versos
compostos no afã da felicidade

É agora poema impresso
no amargo papel da suadade


Amélia de Morais

HORA CANÔNICA

Na igreja o sino bate
Hora da Ave-Maria

Em casa a s mulheres rezam
o terço de porcelana

No quarto os homens dormem
os sonhos da hora santa

Na rua as pessoas se benzem
com a s mãos sujas de pecado

Na cidade o dia chora
a chuva pedida na hora canônica


Amélia de Morais

PROMESSAS

Prometo trocar de pele
pra sentir melhor o vento

Prometo trocar de voz
pra falar melhor à lua

Prometo trocar de olhos
pra ver de perto o presente

Prometo trocar de mãos
pra escrever versos mais belos

Prometo trocar de verbo
pra fazer uma outra história

Prometo trocar de ideia
pra estar bem mais feliz


Amélia de Morais

ARREPIOS

Tenho arrepios na alma
quando ouço a loa
da lua nascendo no mar
E não abro mão
dessa pele sensível
que cobre meu coração
e me torna possível
sobre todas as coisas versar

Amélia de Morais

CRÉDITO

Mereço
tuas orações
nas contas do terço

Valho
aqueles versos
no tronco do carvalho

Sou digno
dos sortilégios
que descreves no signo

Sou credor
dos carinhos nas pontas
dos dedos do amor


Amélia de Morais

(O Homem que veio do Sol, de Fábio Balen)

SEM SORRISO

As ruas abandonadas
o sol se pondo
eu e minha sombra
morrendo

Segurei o sol
com a mão
na esperança
de queimar a solidão

Queimei
meu sorriso

Hoje estou só
e triste


Amélia de Morais

IR E VOLTAR

Traço
a linha do tempo
Faço
minha própria história

Destaco
andanças ao vento
Atraco
o barco da memória

Venço
o medo da idade
Pertenço
a mim mesma agora

Publico
o livro da minha verdade
Versifico
a toda e qualquer hora

Parto
realizada e atrevida
Descarto
nos meus olhos, a tristeza

Finalizo
a poesia da vida
sinalizo
renascer na certeza


Amélia de Morais

RASGUEI

Faltou inspiração
rasguei o verbo
naõ faço canção

Meu lápis não escreve
não tenho papel
perdi minha verve

Tranquei a gaveta
joguei fora a chave
não sou mais poeta


Amélia de Morais

ESQUECI

Esqueci seu sorriso
nas minhas lágrimas

Esqueci sua voz
no tamanho da minha dor

Esqueci os seus gestos
na amargura da solidão

Esqueci os seus passos
no vazio da minha estrada

esqueci o seu poema
sobre o banco do jardim

esqueci...
assim... deixei ali ... e saí


Amélia de Morais

ANDO E PROCURO

Um cais iluminado
ponto de encontro
de sonhos atracados

Um braço de mar
repleto de histórias
de ler e contar

Um porto seguro
varadouro de encantos
eu ando e procuro.


Amélia de Morais

AS BOLINHAS DA JOANINHA

Onde estão
as bolinhas da joaninha?
Terá a chuva lavado?
Terá o menino levado?
Onde estão
as bolinhas pretinhas
da joaninha
que agora desfila
errante,
desnuda,
tristonha,
cheia de pudor
e vergonha?

Amélia de Morais

ALGUNS INSTANTES

Foram apenas alguns instantes,
nem sei como explicar,
seus olhos
nos meus olhos,
o chão abriu-se ao meio,
uma felicidade tamanha
abriu espaço no peito.

Amélia de Morais

PASSAPORTE

Gosto tanto
que me esqueço
entre noites e estrelas
num escuro infinito
sobre a Linha do Equador
riscada no teu corpo
Me encontro
às vezes no sul
me perco
por vezes no norte
Minhas mãos
o passaporte.

Amélia de Morais

MUITO ALÉM DE MIM

Prá lá de mim,
muito além dos meus sonhos,
na alma que habita a vida,
dorme, serena, a poesia,
dorme, perene, a palavra,
dorme, olente, a beleza
que busco nos versos meus.

Amélia de Morais

VIAGENS

Daqui, do alto dos meus olhos
acompanho o passar do tempo

Lento na solidão
Veloz na paixão

O coração não dá sossego
acelera, acelera, acelera...
... aquieta, aquieta, aquieta
no apego e no desapego

Daqui, do alto dos meus olhos
não abro mão do passatempo

Lágrimas na separação
Brilho na conjunção

O corção é coragem
não teme a faca afiada
não teme o silêncio e o vazio
se entrega a toda viagem

Daqui, do alto dos meus olhos
vejo tudo e nada falo, fico atenta.


Amélia de Morais

O VENTO E EU

Incorrigível vento
ousado
e ciumento
Se não posso contigo
me entrego
então... seja brando comigo.

Amélia de Morais

A ENERGIA DO AMOR

Espalha tua energia
aquela que acolhe e engrandece
aquela que aconselha e cala
aquela que ensina e perdoa

Espalha ao seu redor
espalha pelas cidades
circula a energia doa amor.
Sem ela não há humanidade.


Amélia de Morais

OS HUMORES DO VENTO

O vento soprou sereno
lá pras bandas
da infância.

O mesmo vento, desalmado
soprou cortante
o coração do cantante.


Amélia de Morais

SEPARAÇÃO II

Quando parti
o brilho em lágrimas
eu vi
nos olhos da compaixão

Ali
abandonada
no espelho
ficava a minha solidão


Amélia de Morais

SEM TEMPO

Ando um tanto sem tempo
sem tempo de abraçar
sem tempo até pra sorrir
sem tempo de acordar

Eu pulo por sobre os amigos
sentados na mesa do bar
eu pulo por sobre os sonhos
deitados bem dentro de mim

Vivo um tanto sem tempo
sem hora nem pra dizer
que me esperem um só minuto
que eu volto do "me esquecer"

Amélia de Morais

FLEXIBILIDADE
.
Não ordene;
peça,

Não grite;
fale,

não imponha;
convença,

Não obrigue;
conquiste,

Não arranque;
dobre,

Não aperte;
abrace,
enlace,
beije a face.

Amélia de Morais

.

As CRIANÇAS CRESCERAM
.
As crianças cresceram
meu ontem já é amanhã

As sementes que lancei
são brotos que perfumam o ar

Não há mais fraldas
só ausências prolongadas

Mas as noites ainda são de vigília

Amélia de Morais

.

CHÃO DURO
.
Aqui neste chão duro
sem coberta ou cobertor
travesseiro ou almofada
Um espaço de perdedor
dividido com os irmãos
Até os sonhos
tem os pés no chão

Amélia de Morais

.

ESSE CHEIRO DE JASMIM
.
Próximo a mim
o mar
a lua
e essa noite sem fim
em mim
esse vinho
esse olhar
esse cheiro de jasmim
Então, deixo-me assim...

Amélia de Morais

.

CRISTAL

Meu cristal
Hei de guardar-te sempre
E fielmente
Hei de velar-te o sono sempre
E sinceramente
Hei de proteger-te sempre
E lealmente
Na distancia da minha feiúra
Hei de levar-te nos olhos meus
Bem próxima da minha loucura
Tão longe dos sonhos teus.

Amélia de Morais

.

DESATINO

Não havia histórias pra contar
Não havia motivos de riso
Tampouco de pranto
Os meus versos não cabiam no poema
E o poema não rimava com a minha vida
Eram letras errantes, nômades, ciganas
Que não souberam ler as mãos do nosso destino
Foi apenas desatino. Desatino.

Amélia de Morais

.

SAGRADO AMOR

O amor é sagrado
Sagrado silêncio
que me habita
Sagrada algazarra
Que me visita
Sim, o amor é sagrado
Conspira,
Delira,
Transpira
E suspira
O amor é sagrado
Sagrado fruto
De todo dia
Sagrada saudade
Da companhia
Sim, o amor é sagrado
Sagrado calor
Que arrepia
Sagrado frio
De ventania
Vem e cumpre sua sina
Dissemina

Amélia de Morais

.

ECLIPSE DE AMOR
.
Um momento raro
cuja magia inspira
A lua se deita com o sol
e todo universo conspira

Eclipse de amor e paixão
completo na escuridão
A lua ousada e livre
brinca com o fogo do sol
o sol apaixonado e sincero
desmancha-se em arrebol.

Amélia de Morais

.

DEDICAÇÃO
.
Dedico esse poema
aos criadores de versos
que aqui deixam temas
e exploram esse universo
àqueles amantes da poesia
que na madrugada fria
aquecem a alma do leitor
que no fim do jogo é o vencedor

Amélia de Morais

.

ANTES E DEPOIS DE TUDO

Antes que o dia clareasse
Antes que o sol nascesse
Antes que a lua dormisse
Antes que a noite sumisse

Nascemos no acaso
Antes e depois de tudo
Sem hora, espaço ou prazo
Éramos nós num mundo desnudo

Lembro apenas do momento mudo.

Amélia de Morais

.

SIGA

Vá em frente
pulando muros
rompendo regras
Insista
o mundo é um furo
pra mergulhar
Chute pedras
mas, não desista
não tenha medo de respirar

Amélia de Morais

.

INOCÊNCIA

Espalha tua doçura
pelos céus de todo o mundo

Derrama tua candura
em solo bom e fecundo

Semeia tua inocência
entre os seres dessa terra

Desperta a consciência
do homem que faz a guerra

Amélia de Morais

.

SILENCIOSA TARDE
.
Silenciosa tarde
silenciosa e dolorida tarde
rasgando as entranhas
da noite em mim
expondo meu corpo
à luz da lua
Silenciosa tarde nua
silenciosa e crua tarde
nem se despede e se vai
arrancando de mim
o brilho do sol

Amélia de Morais

.

Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo? (Fernando Pessoa)
.
AMOROSAMENTE

Amo
Serenamente, amo
Sinceramente, amo
Sensatamente, amo

Amo
Desesperadamente, amo
Discretamente, amo
Decididamente amo

Amo
Amo, dizer-te
Que te amo.

Amélia de Morais

.

SIGAMOS
.
Juntamos
pedaços de vida
unimos
pedaços de sonhos
alinhavamos
nova saída
com o desejo
que carregamos
Sigamos

Amélia de Morais

.

MORDIDA DE POETA

Sim
Arranco um pedaço de ti
Cada vez que me despeço
E me despedaço
Cada beijo, uma saudade
Guardada na mala do tempo

Sim
Arranco um pedaço de mim
Cada vez que me entrego
E me integro
A cada mordida de amor
Nos versos que ora escrevo

Amélia de Morais

.

VALSA

Dança comigo
Esse pranto.

Eu canto
O verso do braço amigo.

Amélia de Morais

.

INFÂNCIA REAL
.
Pede esmola no sinal
fechado
Pede presente no natal
pé-rapado
dorme sozinho no matagal
abandonado
sonha seu sonho semanal
esfomeado
acorda e vive a vida real
drogado.

Amélia de Morais

.

PINTANDO SEUS OLHOS

Eu pinto seus olhos
nas cores de me olhar
pinto verde-esperança
pinto azul-da-cor-do-mar
Eu pinto seus olhos
nas cores de apenas me ver
pinto preto-escuridão
pinto castanho-amanhecer
Eu pinto seus lindos olhos
nas cores do mundo seu
com a tinta do arco-íris
que brota dos olhos meus

Amélia de Morais

.