sábado, 23 de abril de 2011


OUÇA


Ouça a música do silêncio,
é tão bela!
Permita ao vento
um suave afago,
é tão puro!

E não esqueça de sonhar,
é tão bom!

Quanto ao amor...
seja forte, seja fraco,
seja suave e real,
seja homem e mulher,
seja tranquilo e inquieto,
seja luta e paz.

Quanto ao amor,
seja amor,
simplesmente,
conjugando-o
sem tempo e sem modo
em todos os tempos e modos.

Quanto ao amor,
ouça a música do silêncio,
é tão bela!


Amélia de Morais





ALGODÃO DOCE

aquela nuvenzinha
branquinha
passeia pelo parque
passeia
passeia
passeia
e desaparece.

Em seu lugar
uma carinha melada
e um sorriso doce
de satifação
plena.


Amélia de Morais

EXERCÍCIO DE UM DOM

Mais que palavra
seja dom
ensaiado noite
e dia.

Seja som
cantado
a qualquer hora.

Seja ritmo
descoberto
no pulso e no coração.

Seja alma
seja carma
seja luta e libertação.

Seja verdade
e fantasia
exercício que pulsa
e expulsa pela veia
verso e poesia.


Amélia de Morais
PRANTO

Pétalas de água
Riscam a face
Ancoram nos lábios
Narram histórias
Tristes, doídas
Oculares testemunhas da dor.

Amélia de Morais





CASA DOS ESPELHOS

Sou tantas
sem ser nenhuma,
modelo e reflexo,
realidade e ilusão,
vaidade e decepção.


Amélia de Morais

BORBOLETA FELIZ

Sigo assim
flor em flor
tal qual borboleta feliz
em busca
de toda cor
pra completar meu matiz


Amélia de Morais

PASSO DESCOMPASSADO


Sem pressa
ando pelos caminhos
já conhecidos meus.

Meus passos
serenos
seguem a velha trilha.

Um pé
compasso
o outro
desfaço
volto
descompasso
páro
trespasso
e retorno à trilha.

Sem pressa
traço meus planos
faço, desfaço, refaço.

Nas pedras, meu espaço
desta vez, sem cansaço
sem fracasso.

Amélia de Morais




PALAVRAS QUE FEREM


As palavras
são facas de dois gumes,
cortam o pão,
ferem a pele,
a fina pele da alma
que sustenta o peso da dor,
mas não suporta
o leve corte de uma palavra
mal dita,
de uma palavra
maldita,
da palavra que um dia
foi cristal,
outro dia virou vidro,
outro dia, desamor.


Amélia de Morais
INVERSÃO

Sou o amor
que você não procura,
sou o dia
que passou,
sou a palavra
que você não diz,
sou a chuva
que caiu,
sou aquele
que você não vê,
sou o trem
que partiu.

Você é minha alma gêmea
desde que você nasceu,
você é minha poesia,
minha livre inspiração,
você é aluz dos olhos meus
no escuro de cada estação.

Você é o verso da vida

Eu sou a sua inversão.

Amélia de Morais

SONO DISPERSO

Meu sono
vagueia por aí,
disperso.
Parte segue para o sudeste,
vai visitar meus mortos;
parte segue para o norte,
vai visitar meus sonhos;
parte segue para o centro,
vai visitar meus desejos;
parte fica aqui, comigo,
não gosta de visitas,
vive só,
trancado no verde
dos meus olhos insones.

Amélia de Morais



ENCONTRO-ME EM TI


Dourei pílulas,
vendi almas,
pintei zebras,
botei banca,
ri das dores,
comprei versos.

Na mentira da poesia
encontro-me em ti,
encontro-te em mim,
vidas pobres e vazias.

Amélia de Morais




DESEJO CARMIM

Desejo
ardentemente
um beijo
presente,
deixando
assim
a marca carmim
na pele
ausente de mim.


Amélia de Morais

AGRI-DOCE

Teu amor
é agri-doce,
de noite arde,
de dia é manso,
de noite é esperto,
de dia, sonso
de noite é euforia
de dia, descanso.

Agri-doce
é meu amor,
de dia eu canto
de noite, danço.


Amélia de Morais
ETERNA MAGIA

Poesia
eterna magia
da alma fugidia
que afina o canto e judia
da alma pobre e vazia
que morre e nasce todo dia.

Amélia de Morais





VALES

Vale do Rio Doce
vale passagem pro céu
Vale do Rio Pardo
vale dormirmos ao léu
Vale do Paraíba
vale tirar o chapéu
Vale do Guaporé
valecorrer no corcel
Vale do Rio Canindé
vale olhar sem o véu
Vale do amazonas
vale ganhar um troféu
Vale do Jequitinhonha
vale a saudade fiel.

Amélia de Morais

VÍRUS DO AMOR

Vixi, meu Deus!
Corre, Maria Donzela,
tranca a porta,
cerra a janela.

Deu no jornal, criatura,
o vírus chegou!
Ele pega e abraça,
abraça e beija,
e leva pra cama
o vírus do amor.


Amélia de Morais
HORA ABSURDA

É nessa hora
absurda,
quando até mesmo a noite
dorme,
quando me falta tudo
e só me resta o tempo,
que fico jogando
sonhos
nos vidros
do seu sonhar.


Amélia de Morais





NO FUNDO , NO FUNDO...

No fundo, no fundo...
nem eu sei
o que faço aqui.
Me tranco no papel,
atiro versos,
que soam brancos
- ressoam cantos de cor nenhuma -
Sou arremedo de poeta,
mas sou feliz.


Amélia de Morais
TRILHAS

Meu coração
segue viajando
entre trilhos e trilhas,
faz rondilhas,
roda milhas,
desencarilha
e empilha tristezas,
umas sobre as outras.
Meu coração
ignora saudades
e abre novas trilhas
sobre os trilhos do esquecimento.
Mentiras de um coração
andarilho
que nem tem paisagens
pra lhe aquecer.


Amélia de Morais

sexta-feira, 22 de abril de 2011


(Tela de gustave klimt)

ALEGRIA, ALEGRIA


A vida não se adia,
à morte não se alia,
o gozo é alquimia,
esquecer a melancolia,
o doce é ambrosia,
saudade anestesia,
o tempo não se anuvia,
um beijo que arrepia,
sorriso que se amplia,
pros males, a cantoria,
cinema em companhia,
carnaval e fantasia,
chegada é euforia,
um filho é uma cria,
a paixão que extasia,
felicidade em demasia,
fazer com maestria,
o crítico que elogia,
alma em plena folia,
o canto da cotovia,
a dor que se expia,
música em harmonia,
letra, música e poesia,
o perfume que inebria,
rolar na cama macia,
água, luz e moradia,
a prática à teoria,
acertar na loteria,
a fome que se sacia,
o amor que não sitia,
a vida que sempre e sempre se recria.


Amélia de Morais
EU VENERO

Eu venero o ar,
venero o sol,
venero o mar
e o arrebol.

Venero o amor,
venero o carinho,
venero a flor
e seu espinho.

Venero a poesia,
venero a palavra,
venero a alegria
e tugo que ela traga.

Venero a energia,
venero a luz,
venero o dia
e a noite que me seduz.

Venero a chegada,
venero a partida,
respeito a morte,
venero a vida.

Amélia de Morais




O VIOLINO MÁGICO

Não quero orquestras,
nem fogos de artifício,
nem o som a mil decibéis.
Quero apenas
um violino mágico
anunciando em suave melodia
a chegada da paz.


Amélia de Morais

QUALQUER DIA

Um dia
esquecerei minhas mágoas
expulsarei do coração
as dores que irrigam
as mais tristes lembranças
Então, andarei de carrossel
as voltas que o mundo dá.


Amélia de Morais
OLHOS FECHADOS

Vida
Viver
Vivenda
Venda da vida
Venda dos olhos
Fenda da vida
Fenda dos olhos
Dos olhos da vida
Cerrados
Em prantos
Molhados
Sem vida
Fechados
Para sempre
Para mim
Para nós
Para todos
Para todo o sempre
Sem vida

Amélia de Morais



INFÂNCIA

Pedra Azul
Montes Claros
Belo Horizonte

Eram paisagens
a minha infância

Amélia de Morais

ALUCINAÇÕES

A rainha dobra
a esquina,
O anjo voa
baixo,
A menina ri
do leite derramado,
Os bufões pulam
o muro,
O homem jura
o amor que não tem,
As bananas apodrecem
na fruteira,
A moça olha
a lua pelo espelho,
Meus versos saem
assim, sem sentido,
sem razão,
enquanto o coração chora
suas mágoas.


Amélia de Morais

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quinta-feira, 21 de abril de 2011

HISTÓRIAS DA VIDA TODA

Não declaro tudo que penso.
Guardo trancadas em mim,
palavras, frases, contos,
livros completos.
Histórias que nunca vivi,
sonhos da vida inteira,
pecados não confessados,
verdades só minhas.
Nem sei se as quero guardadas,
nem sei se as quero expostas,
mas, trago todas comigo,
tatuadas na alma.


Amélia de Morais

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INSPIRAÇÃO

Às vezes me pego sonhando
palavras que nunca falei,
me pego, às vezes, cantando
canções que nunca ouvi.

Construo castelos tão belos
com pedras que nunca peguei,
abraço pessoas estranhas,
amigos que nunca mais vi.

E, às vezes, me vejo catando
poema que nunca lerei,
são versos que tiram meu sono
com rimas que nunca escrevi.


Amélia de Morais

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ABELHA-PRINCESA

De onde virá
esse suave barulho que ouço?
De onde virá
esse cantar?

São asas vibrando
no ar,
como flores ao vento.
São melodias entoadas na madrugada,
como doces palavras.

A abelha-princesa desperta
e vem ver de perto
o jardim florescer,
e vem ver de perto
o dia dourar,
e vem ver de perto
a barra do dia surgir.

A abelha-princesa-menina
entoa seu canto
de começar.
Seu canto de abelha-princesa-mulher.


Amélia de Morais
VERSOS TRISTES

Os versos tristes
que crio,
são meus,
não os divido.
Leia-os,
não os guarde,
pois que tristeza
é saudade.

Amélia de Morais

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POEMINHA

Chove fino
no meu coração
seguro pesadamente
minha cabeça
enxugo as lágrimas
da minh'alma.


Amélia de Morais

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EU

Desci montanhas
como andei em carrosseis,
doidamente.
Andei pelo mundo
e no entanto,
nunca saí do lugar.
Corri,
brinquei,
briguei,
lutei bravamente.
Me vi diante de muitos mares
e me encontrei apenas nos rios,
às margens do amanhã.
Sobrevivi.

Amélia de Morais

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SAUDADES

Eu sou a saudade antecipada
de um amor precipitado.
Sou o último beijo
de uma grande distância.
Sou o aceno sem lenço
e a lágrima incontida.
Sou os dias que faltam
pra uma eterna despedida.
Sou o tempo que fica,
que machuca.
Sou os olhos vermelhos
de um choro incontrolável.
Sou a tristeza da espera
com o olhar perdido na estrada.
E você...
a razão disso tudo.


Amélia de Morais




SOLIDÃO II

Como um barco
que vaga
nu imenso oceano,
como uma estrela
que brilha
num imenso céu escuro,
como uma flor
que nasce
num imenso matagal,
como um homem
que rege
uma imensa multidão,
somos únicos
em nossa
solidão

Amélia de Morais

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SEM FIM

Meu desejo era correr
e alcançá-lo,
eu não acertava o desenho
da vida.
Traçava uma linha aqui
e os pontos não se encontravam acolá.
Julguei que correr em círculos
faria um belo desenho,
mas, onde chegaria?
Tracei outra linha
paralela à sua, mas em direção oposta.
Estávamos tão próximos
e tão distantes!
faltou-me ar,
fôlego,
ritmo
e eu rabisquei tudo.

Amélia de Morais

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DEPENDE DOS CARNAVAIS

Foi um lindo jogo
de confetes, serpentinas
e jetons.
Foi bonito fazer o passo
ao compasso de seus beijos
e abraços.
Foi um lindo troço,
a troça
que brincamos juntos.
Foi bonito cantar
e lhe ouvir cantar
Uma "saudade" que ainda não sentimos.
Foi gostoso acordar
ao som de clarins,
à visão do amor(você),
correr pra janela
e ver o povo passar,
o carnaval passar
e nós ficarmos.

Amélia de Morais

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AMAR, VERBO SOLAR

Amanheces
como ninguém jamais amanheceu,
às vezes, docemente,
às vezes, gulosamente,
Mas sempre grande,
bonito,
gostoso.
Contornas todo o litoral,
sobes e desces pequenas colinas,
extensos montes,
como quem conhece
o segredo do mapa.
Fazes brilhar,
fazes colorir
toda a viagem
por um mundo fantástico,
povoado de tudo e nada,
através de um maluco trem.
No entanto,
ao entardecer
uma nuvem cobre seus raios
e a terra,
impaciente,
não espera pelo descobrir do brilho
e adormece.

Amélia de Morais







QUEM SOU

Sou louca
música que vem de longe,
música que vem de tempos.
Sou torta
filha, mãe, mulher,
amiga, irmã, mendiga.
Sou pedra
dura e fria,
às vezes bela, às vezes bruxa.
Sou dor,
silenciosamente dor,
misteriosamente dor.
Sou luz
branca,
amarela.
Sou riso
sonoro e intenso,
discreto e triste.
Sou eu
pequeno grão...
pequeno grão...


Amélia de Morais




PERCEPÇÃO

da folha verde,
novinha, novinha,
desliza uma gota
minúscula,
lenta,
teimosa.
Desvenda
os segredos
do corpo da folha
esbelta,
suave,
cheirosa.


Amélia de Morais




SEMPRE APRENDIZ

...E sonho
sobre meu livro.
Me livro
de ser tristonho,
pois ponho
em cada frase,
um pouco; um tanto
ou quase
o quanto
preciso pra ser feliz.
Para sempre, aprendiz.

Amélia de Morais

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SÃO MEUS OS SEUS PASSOS

Cerquei os seus passos
agora são só meus
infinitamente meus.

caminho sobre eles
refaço seu caminho
descubro seu paradeiro.

Ainda que o mar os apague
ainda serão meus
os seus passos.

Estão gravados
nas solas dos meus pés
no verde dos olhos meus.

Amélia de Morais

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REPOUSO

Leves asas
pousando
sobre meu chão

São doces brisas
soprando
silêncio de solidão

E silencio meu pranto
Repouso meu coração

Amélia de Morais

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ESQUECI


Esqueci seu sorriso
nas minhas lágrimas

Esqueci sua voz
no tamanho da minha dor

Esqueci os seus gestos
na amargura da solidão

Esqueci os seus passos
no vazio da minha estrada

Esqueci seus poemas
sobre o banco do jardim

Esqueci...
Assim... deixei ali... e saí.

Amélia de Morais

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CAMINHO ESPINHOSO
.
Enfrento
os mais espinhosos
caminhos
Só pra trazer-te
aqui
essa flor
sem espinhos

Amélia de Morais

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terça-feira, 19 de abril de 2011


AMOR PERFEITO

Menino,
ouça o meu lamento,
é primavera
e não há flores no meu jardim
e há muito
lancei sementes.
Rapaz,
não ouves o meu canto?
Não me deixe
mais um outubro sem cores,
invente-me
um país de flores.
Jardineiro,
não é de capim
que te falo,
tão pouco de margaridas.
Neste amanhã,
plante-me
amor-perfeito.


Amélia de Morais

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SÓ BASTA VOAR!



Menino,
vê se me ensina
como é que se empina
um papagaio
de um jeito bem feminino.
Menino,
me ensina direito,
no mais que perfeito
do verbo empinar,
do modo mais cristalino.
Menino,
me deixa cansada,
que eu fico calada,
olhando pro nada,
olhando o destino,
o nosso destino
que fica bem alto!
mas, que com um salto...
Só basta voar!


Amélia de Morais

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PIMENTA, CEBOLA E MÃOS


Se eu chorar,
não ligue, não,
é que a pimenta nos olhos
não terá sido refresco.
Ou, então,
terá sido pela cebola
que certamente não terei aprendido a cortar
sem lágrimas.
Se eu chorar,
não me afague, não,
pois suas mãos
serão como a pimenta e a cebola,
produzirão mais lágimas,
muito mais lágrimas.


Amélia de Morais

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POR QUE CHORAS?


Por que choras, menino,
por que?
Choras pela noite
sem estrelas?
Choras pela falta de poesia?
Por que choras, criança,
por que?
Não é por causa da chuva,
não é por causa do mar...
Será, será pelo mar?
Não choras pelo fim da tarde,
choras?
Mas, como,
Com a noite a chegar?!
Choras mesmo, de verdade,
ou será que choras
pelo prazer de chorar?
Se choras
pela ausência de tudo,
esqueça!
O tudo acabou de chegar.


Amélia de Morais

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domingo, 17 de abril de 2011

UMA FADA

A janela está aberta,
os meus olhos estão abertos
e também meu coração,
por que não entra
o vento alegre
de um dia
ou um raio brilhante
de sol?
As borboletas
estão presas à parede
e continuo assim,
meio triste,
meio oca.
Por que não tenho direito
a uma fada?


Amélia de Morais

.




ENTRELINHAS 45


sou

meio água,

meio ar,

meio sufoco,

meio alívio,

meio medo,

meio suspiro.

Sou

verbo de rir e chorar.


Amélia de Morais