sexta-feira, 23 de setembro de 2011


O QUE ESPERO DE TI
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O que espero de ti?
um pouco de paciência
gotas de envolvimento
muita, muita querência
versos na madrugada
sentimento e razão
seguir juntos na estrada
sem placas de contramão

Amélia de Morais


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VERSO EM VINHO
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Um verso
esquecido
molhado no vinho
tinto e envelhecido
ressurge agora
novo e oferecido
quebrando o ovo
deixado no ninho.

Amélia de Morais

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Ah, saudades!

Misteriosa e complexa,
vilã e companheira,
a saudade vem anexa
à paixão pura e verdadeira

Também se une ao amor,
assim como à amizade,
machucando como dor
ou consolando, com bondade

Ah, saudade da minha terra,
saudades do meu pai, do meu irmão!
saudade que em si encerra
desterro ou abolição

Amélia de Morais

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ABRIGO
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Pego em tuas mãos
E de repente o medo passa
O tempo para
E a vida ganha novo sentido.

Em teu peito
Encontro abrigo
Em teu regaço
Faço minha morada

Teu sorriso
meu alento
ilumina meu juízo

Teu olhar
meu paraíso
água doce de chorar

Mavie Louzada / Amélia de Morais

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INGRESSO
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Acho que me perdi no caminho.
Juro que inda agora
calçava as botas de léguas,
limpava o mato daninho,
olhava o tempo e a hora,
riscava o trajeto com réguas,
partia, tão certa do sucesso!
Eu juro que comprei o ingresso!
E devo voltar ao começo?

Amélia de Morais

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AS MANHÃS DE SÁBADO
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As manhãs de sábado
são sempre tão parecidas
um olho aberto, outro fechado
um tal de acordar dormindo
um tal de dormir tão fingido
e a preguiça sobre o travesseiro
sob a colcha e o lençol
dentro do corpo da moça
que não quer nem ver o sol

Amélia de Morais

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segunda-feira, 19 de setembro de 2011


PENSAR E SONHAR

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Penso,
logo, sinto saudades
dispenso
a força dessa verdade

Sonho,
logo, sinto desejos
suponho
que um futuro tracejo


Amélia de Morais

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DE MIM MESMA, MOTIM

Sou silêncio e medo
Não revelo meu segredo
Mas a palavra habita em mim
E a vontade de cantá-la enfim.
Sou desejo e, rebelde, sou motim
De mim.

Amélia de Morais

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FÊNIX

A palavra germina no silêncio
Brota–se em verbos e se espalha
Encanta-se em poesia pelo ar.

Amélia de Morais

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RECOMEÇO


Um ano
De tantos minutos
Tantos pecados
Tantos enganos
Certos e absolutos
De meses lentos ou agitados
Se foram todos os segundos
Em dias estéreis ou fecundos
E num dia de milagre, primeiro
As horas recomeçam, íntegras
Cheias de promessas
De um mundo muito melhor
Vazias de insanas regras
Até que o dia adormeça
Á espera de um tempo maior.


Amélia de Morais

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PEQUENA NOTA DE JORNAL

Compro uma felicidade
não importa a cor
não importa a idade

Eu compro uma felicidade
não importa o peso
não importa a nacionalidade

Compro uma felicidade
não importa o tamanho
só não quero viver pela metade.

Amélia de Morais

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domingo, 18 de setembro de 2011


Silêncio Poético
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Palavras mudas,
incansavelmente silenciosas,
caladas na boca fechada,
fechadas na boca muda.

shshshshshshshshshshshsh
façam calar o silêncio
desse verso que nada diz,
desta poesia infeliz!

Amélia de Morais

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ATÉ QUE A CERA DERRETA

Voarei por aí,
sobre mares e rios
sobre praias, fazendas
sobre prédios e casarios
sobre estradas e sendas
Voarei vendo o mundo
seus montes e fendas
o raso e o profundo
Voarei lá no alto
sobre horas, segundos
sobre o teto e o asfalto
Até que a cera derreta
e eu caia no planalto
e, então, seja poeta

Amélia de Morais

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LUZ ll
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Tortas estradas feias
empoeiram meu suspiro
e grito o sangue das veias

Sufoco meu desencanto
sobre as pedras do caminho
que secam a dor e o pranto

Unidas, minhas mãos
sem pressa, fazem prece
Luz na escuridão

Amélia de Morais

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O PRÓXIMO PASSO

Anseio
dormir na lua
e acordar enfeitiçada
andar boba pela rua
imaginando ser amada

Anseio
nas estrelas amar
entre raio e trovão
na madrugada acordar
e reviver a paixão

Anseio
dominar a escuridão
tomar a noite nos braços
e ensinar ao coração
a dança desse noturno compasso

Anseio ser o próximo passo

Amélia de Morais

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TELA SEM COR

Tela sem cor
Diante de mim
Reclama pelo pincel

Mãos sem vontade
Diante da tela
Reclamam pela inspiração

O mundo girando
Ponteiros andando
O tempo passando

E a tela vazia

Amélia de Morais

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A GÔNDOLA DA VENEZA BRASILEIRA
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E lá vai ela
paciente
catando a sujeira do rio

e lá vai ela
ciosa e silente
observando o casario

E lá vai ela
transparente
vencendo o desafio

E lá vai ela
consciente
deixando o Capibaribe sadio

Amélia de Morais

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