sábado, 9 de julho de 2011


(Leslie Marcus)

DESAFIO

Venha saltar a fogueira
venha se queimar
De toda e qualquer maneira
venha comigo brincar

Faça de conta que canta
Faça de conta que conta
Eu digo e você se levanta
eu mostro e você me aponta

Sopro no ouvido da brisa
que no ouvido do vento derrama
Colho a chuva que cai e desliza
bebo a água que o corpo reclama


Amélia de Morais



DOIS AMORES

A moça morena da praia
esperava na areia o amor
com os olhos pregados no mar
Nos olhos, as águas do mar

Lá longe, no barco distante
o amado saiu pra pescar
deixando a morena na terra
correu pros braços do mar


Amélia de Morais


ABANDONO III

Me esqueço entre outros braços
outros abraços
tantos, tantos, tantos prantos
todos sem pontos
ou seguidos de reticencias
Urgencias

E agora, por onde sigo?
Seus olhos não são abrigo
Seu corpo, pura visão
riscadas nos olhos do coração
E agora, o que faço?
Meus nervos não são de aço
Meu corpo, campo minado
em busca de passos enamorados

Me aqueço entre outros braços
outros abraços...
seguidos de reticencias
Ausencias


Amélia de Morais


quinta-feira, 7 de julho de 2011



IMPERTURBÁVEL MAR

As ondas
Dançavam no mar
Vasto e profundo mar
Rasgando o tempo
Sem medida
Sem vergonha
Seguindo a cantiga
Do próprio corpo
Roubando e devolvendo
À terra
a sua inteira dimensão

Amélia de Morais

.

FUGA
.
Fuga
Fugaz
Busca de paz
De passagem pelo mundo
não me chamo Raimundo
E a rima nada traz
mas...
madruga
amanhece
entardece
e anoitece
nas minhas mãos

Amélia de Morais

.

TUDO PASSA
.
Deprê???
Depressa
Esqueça
A promessa
Abraça
A tristeza
E amassa
a solidão
Na certeza
que tudo passa

Amélia de Morais

.

IRREVELÁVEL SEGREDO
.
És um irrevelável segredo,
um verso preso na garganta,
um vôo guardado no ninho.

És a palavra pelo avesso,
a concha no fundo do mar,
o mistério de um novo caminho.

És o silêncio das estrelas
e, ao mesmo tempo,
o estonteante brilho delas.

És a emoção silente
presente no arrepio
da pele invisível da alma.

Amélia de Morais

.

SAMBA TRISTE

Saudade
Que aperta o peito
Desmancha os meus pensamentos
Como o vento,
Vadio, errante, faceiro
Levanta as pétalas das flores
Que dormem ao relento
E traz a música pulsante
No samba nascido
da minha dor

Amélia de Morais

.

De Perda e Esperança

E foi quando se desfez o encanto,
Que minha poesia partiu.
Era feita de pranto e canto,
De luz e escuridão.
Era a dor que não se cansava,
Alegria que nunca findava,
Inspiração, emoção...

Em conversas com a lua,
Namorando as estrelas,
Brincando na madrugada,
Com a alma iluminada,
Tão somente pela ilusão,
Que se desfez, virou pó.
Agora fico a olhar a imensidão,
Na solidão, vivo só...

Meus olhos - vazio infinito,
a voz guardada na lua.
A minha poesia nua,
despida de encantamento,
hoje trago escondida
debaixo da pele fina
da palma da minha mão.

E basta um corte de leve,
sutil sentimento de estima,
pra que a palavra breve,
mas plena de poesia,
retorne ao berço de luz
e eu volte a cantar a lua,
e eu volte a lançar na rua
os versos de alegria.

Jane Moreira e Amélia de Moraes

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NA MÃO

O verso
É pássaro pousado na mão
Apenas no breve instante
Da tinta pintando a tela.
Depois voa
Ganhando o espaço da declamação
Na boca do leitor,
O silêncio do ouvinte
No livro na estante.
Aos poucos revela
A alma de todo poeta
Às vezes em entrelinhas discretas.

Amélia de Morais

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