terça-feira, 18 de outubro de 2011

(Romero Britto)


APRENDENDO
.
Quando meto os pés
pelas mãos,
é quando aprendo
a andar na vida

E se fecho os olhos
pra sonhar baixinho,
O meu coração
se abre por inteiro
pra ver o mundo

Amélia de Morais

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BILHETE
.
Palavras, palavras, palavras
que dizem e escondem
e não traduzem o inseguro
sentimento ausente na sua boca
porque és corpo, não alma
E me oculto de mim mesma
no jardim secreto do amor não declarado
e brinco de esconde-esconde
nas entrelinhas das palavras
que não digo e finjo escutar

Amélia de Morais

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QUEM SOMOS
.
Somos estrelas
primeira, última e centenas
milhares delas
Somos centelhas
brilhantes, douradas e pequenas
que o céu revela
Somos mensagens
curtas, longas e sinceras
somos sentinelas
Somos nossas histórias
e de outros, sonhos e quimeras
tintas, pincéis e telas
E mesmo sendo tantos
somos da vida, faísca mera
do universo, mínima parcela

Amélia de Morais

.

APENAS VISÃO
.
Meus olhos
lhe afagaram a vaidade
Meu corpo
lhe abraçou a presunção

De nada me vale
essa saudade
A nada me leva
essa canção

O tempo
me despe a mocidade
O vento
carrega a ilusão

O dia
me trouxe a claridade
E a noite
não é apenas escuridão

Seus olhos
não são de verdade
Seu corpo
apenas uma visão

Amélia de Morais

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CASA VAZIA
.
O silêncio que dói
que rói, destrói

O beijo que nunca foi dado
e a boca na doce espera
Na mão, o gesto calado
acena em resposta sincera

a saudade que resta
arresta, infesta

O peito pesado
a casa vazia
a solidão por companhia.

Amélia de Morais

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