sexta-feira, 20 de maio de 2011


ÁGUA MOLE

Não sou trem
Pra andar no trilho
Sou da pá virada
Danada
Viajo pra lá do além
Sou água
Mole, correndo em pedra dura
Não há muro que segure
Sou forte, fresca criatura
Ser livre é meu preceito
E sigo, assim, do meu jeito

Amélia de Morais

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LEMBRANÇAS

O por do sol
Entre as pedras.
A pequena cidade
Apagava o dia
E acendia a noite
Entre velas e lampiões.
Os sorrisos brilhavam
Nos meus olhos

Amélia de Morais


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CUIDADO!

Devagar,
de mansinho,
pisando em ovos,
chegando cedinho,
falando baixinho.
Sou fada madrinha,
Tão doce, fofinha;
Mas, sei virar fera,
Feroz e austera.
Por isso, cuidado,
Nem tudo que é só,
É abandonado.

Amélia de Morais

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CAMINHOS DE LUZ

Somos caminhos
Que um dia se cruzaram
Em um ponto feliz
Da existência.

Caminhos longos
De esperas e esperanças,
De chegadas e partidas.
Caminhos de percorrer.

Mas, não olhe pra trás
Não, não estarei mais ali.

Num lugar qualquer
Haverá outra encruzilhada

Mas onde quer que esteja
Serei verso de oração
Para que cada estrela no céu
seja sua luz na escuridão

Amélia de Morais

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NINGUÉM TEM IDEIA DE QUEM VEM LÁ
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Ficha limpa?
Qual? Onde?
De quem?
Creio que perdi o bonde,
não sei pra onde foi,
nem de onde ele vem.

Vergonha nacional
consultar uma lista,
não para escolher,
mas, para ter uma pista
de quem não se deve eleger.
E o povo passando mal.

Amélia de Morais

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RETICÊNCIAS
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...

as reticências
preenchem minha vida
cheia de pausas
e longas ausências

Amélia de Morais

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ABISMO
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Me deparo com o abismo
Salto?
Não salto?
De salto alto!?
Não. Deixa eu tirar o sapato.

Amélia de Morais

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quinta-feira, 19 de maio de 2011


VERSÃO
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Re[corte] a palavra
Trans[forme] a versão
Re[force] a pronúncia
Im[plante] a canção

Amélia de Morais

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VIRTUAL EXISTIR
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Virtual segredo
brinquedo
de ler e escrever

Virtual amigo
abrigo
de falar e confessar

Virtual carinho
ninho
de existir e dividir

Amélia de Morais

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TEMPO E DIMENSÃO

Invento esse instante
Tão perto, distante
Somente sonhar

Nada importa
Apenas comporta
O dom de viver

Sem noite, nem dia
O tempo é poesia
Plantar e iludir

Espalho a semente
Doutrina vigente
Na voz do cantor

No mínimo espaço
Eu guardo o abraço
Componho a canção

Amélia de Morais

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MEIO DIA, MEIO NOITE


passos certos
ligeiramente calmos
calmamente espertos

entre o corpo e o coração
nem frevo, nem valsa,
eu danço um samba-canção

manhã, às vezes me entrego à letargia
noite, às vezes faço folia
mas sou como o entardecer, sou sensata

meio dia, meio noite - diplomata


Amélia de Morais

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DEIXA ESTAR

Deixa estar,
Amanhã eu lavo os pratos,
Limpo a mesa e varro o chão.

Deixe estar
Amanhã eu lavo os olhos
Faço as malas, lavo a ilusão

Parto cedo,
sem lamentos,
sem discurso,
sem, sequer, uma saudação.

Amélia de Morais

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ESPELHO II

Vida e morte
Capa e verso
Sul e norte
Emerso e imerso

Do claro à Escuridão

Começo e fim
Azul ou vermelho
A morte é enfim
A vida após o espelho

Amélia de Morais

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