sábado, 31 de março de 2012



MINHA ALMA

É esse meu endereço
Minha rua, meu lugar
Numero torto, pelo avesso
Meu cais, meu hangar
É essa minha alma
Minha cor, meu repouso
Da mão, a palma
O verso que arrisco e ouso
É essa minha vida
Meu caminho percorrido
Anjo torto, suicida
Meu corpo puro e ungido
É esse meu canto
Minha voz mezzo-soprano
Os males que choro e espanto
Meu silêncio soberano

Amélia de Morais 

.


ENTREGA

Renunciei
ao medo de ser feliz,
abandonei
a solidão da alma,
desisti
da tristeza dos meus passos,
desprezei
o sorriso tímido,
abdiquei
do trono da esperança vã.

E me joguei
do alto,
de braços e olhos abertos,
ciente
do chão que se aproximava.

Mergulhei
profundamente
na terra desconhecida,
ciente
que ali havia um fundo.

Nadei
vigorosamente
respirando o máximo de ar
no mínimo de tempo,
ciente
da verdade, da certeza,
da alegria, da coragem,
do encontro
comigo mesma.

Amélia de Morais

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MARMELADA
.
Andei por todas as ruas
desencantada
desenfreada
desnorteada
Andei sobre velhas pedras
tonta
sonsa
sem conta
Andei, andei, andei
todo caminho deu em nada
pelada
marmelada
mar me la da

Amélia de Morais

.

CONFIANÇA

Confio meus segredos
ao vento
que espalhando meus medos
me dá certo alento

Confio meus segredos
à lua
que ilminando meus medos
deixa-me nua

Confio meus segredos
ao papel
que revelando meus medos
faz-me um rondel

Confio meus segredos
à alma
que compreendendo meus medos
me afaga e me acalma

Amélia de Morais

.