segunda-feira, 11 de junho de 2012


AOS QUE VIRÃO

Choro sobre as águas sujas
sobre as queimadas no norte
sobre o verde que enferruja
sob o céu cinza da morte

Choro a tristeza do rio
Choro a ausência do peixe
a ruína do casario
e a voz que não se queixe

Clamo aos deuses oniscientes
e aos homens silenciosos
que despertem os inconscientes
que expulsem os perigosos

A Terra é o presente dos que ainda virão.

Amélia de Morais 

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A MOÇA DE VERMELHO

Andou entre os pingos
da chuva
uma mancha vermelha
sob o guarda-chuva
solitária na cortina de água
pensando nos passos que faltavam
chorava o pranto da sua mágoa

Amélia de Morais

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DRUMONNIANDO

Amor, bicho danado
que corre, pula, salta
que gruda, coça, arde
que some e faz falta
que surge mais tarde
abrindo ou fechando ferida
entrando ou saindo da vida
deixando na alma a cicatriz
que às vezes é só lembrança
mas nem sempre é feliz.

Amélia de Morais

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DO FIM AO INÍCIO
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Amou
desesperada e enormemente
como quem dorme em dormentes
sem medos, nem culpas
sem planos ou desculpas
Amou
sincera e simplesmente
como quem sonha somente
sem limites, nem horizontes
sem redes ou pontes
Amou
plena e vivamente
como quem planta semente
sem chuvas, nem benefícios
sem renúncias ou sacrifícios
Amou
do fim até o início.

Amélia de Morais

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